segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Robin Hood #2: O jovem Robin Hood de Pyle

     Dando continuidade ao ciclo de postagens sobre o famoso arqueiro fora-da-lei, trago aqui uma breve exposição de um dos livros que o tornou famoso, principalmente para o público infantil: As Aventuras de Robin Hood, em inglês, The Merry Adventures of Robin Hood. Neste livro, Howard Pyle apresenta uma narrativa voltada para o público jovem, trazendo elementos simples com poucos aspectos sérios. A partir desta obra, diversas adaptações de Robin para o público infantil surgiram, desde de livros infanto-juvenis a animações.
     Antes de comentar a respeito da obra, segue um breve resumo de quem foi Howard Pyle.

O Autor


     Howard Pyle nasceu em 1853 no estado de Delaware, nos Estados Unidos. Incentivado pelos pais, tornou-se ilustrador e dedicou quase toda a sua vida a arte de ilustrar. Em 1900 fundou sua própria escola de ilustração chamada Howard Pyle School of Illustration Art na qual lecionou para diversos alunos que, mais tarde, se tornaram famosos ilustradores. Apesar de ser famoso como ilustrador, Pyle escreveu diversos livros infantis e de ficção, dentre eles se destacam As Aventuras de Robin Hood (1883) - seu primeiro livro -, Homens de Ferro (1891) e a série composta por 4 livros sobre as lendas arturtianas (1903, 1095, 1907 e 1910). Howard Pyle veio a falecer em 1911 em Florença, na Itália, aos 58 anos devido a vários problemas de saúde. Após sua morte, em 1921, fora publicado o Howard Pyle's Book of Pirates, livro que apresenta uma coletânea de desenhos que retratam a vida das pessoas que viviam no mar e nos portos. Tais ilustrações serviram mais tarde como base para o figurino das personagens do filme Piratas do Caribe

As Aventuras de Robin Hood (1883)



"Prefácio: do autor para o leitor"
     Este prefácio é bastante interessante e me chamou um pouco a atenção. Nele Pyle nos alerta sobre o conteúdo de sua história, no qual ele procura privilegiar a fantasia e são bem vindos que estão dispostos a se divertir com uma narrativa sem preocupações. Neste prefácio ele alerta (o que é curioso) que o leitor que não estiver disposto a entrar na "Terra da Fantasia" proposta que procure outra narrativa porque esta o entediará. Está aqui uma coisa que não se vê em muitos livros. Além disso, neste prefácio, Pyle expões que seus objetivos para esta narrativa estão voltadas para a diversão e despreocupação, evidencia também o seu descomprometimento com assuntos mais sérios neste texto.

Enredo e Contexto
     Com relação a estes dois aspectos, Pyle deixa claro o contexto de sua narrativa, inclusive ao utilizar datas, personagens históricos e também cânticos do período medieval no decorrer de todo o texto. Trata-se então dos séculos V e VI, aproximadamente. Pyle também teve o cuidado de deixar claro determinados costumes que se tinham naquela época no território da Grã-Bretanha. O enredo é composto de pequenas histórias que possuem começo e fim, e, como um todo se organizam em um conjunto de fatos seguidos, quase como uma linha do tempo.

O Robin Hood de Pyle
      O personagem criado por Pyle é muito diferente do Robin Hood histórico e bastante próximo do que se apresenta na lenda. A descrição de Robin não é apresentada de primeira para que possamos imaginá-lo tal como Pyle o imaginou, algumas características dele estão espalhadas pelo texto. Ou seja, em algumas ocasiões o autor apresenta alguns detalhes sobre o porte físico e a aparência de Robin e, apenas depois de ler quase todo o livro tive a imagem completa do personagem. 
      O Robin Hood criado por Pyle é jovem, a história é situada entre no período em que Robin tem 18 anos e termina quando ele está com 23, aproximadamente. E, segundo algumas passagens do livro, ele tem cabelos loiros, olhos azuis e estatura mediana. Características estas que eram pertencem ao povo saxão que habitava o território que hoje é a Inglaterra. Em várias passagens do livro, o Robin é visto como um garoto, um rapaz muito jovem para algumas personagens e que, por conta disto, geralmente não o reconhecem como o famoso Robin Hood, como se pode ver na seguinte passagem:
"(...) — Que tipo de homem ele é, rapaz?
— É bem parecido comigo  disse Robin, rindo. 
 Em altura, constituição e idade somos iguais; e ele também tem olhos azuis como os meus.
— Não pode ser — discordou o latoeiro. — És apenas um rapaz. Penso que ele seja um homem grande com um barba; os homens de Nottingham têm muito medo dele." (Capítulo I - Robin Hood e o Latoeiro, p. 40).
Uma História Reinventada
      O ponto principal a ser considerado sobre o Robin Hood criado por Pyle se dá na sua construção que consiste em registros reais e elementos criados pelo próprio autor. Como citei anteriormente, a lenda de Robin Hood derivou de alguém que existiu certo período na história da Inglaterra e, juntamente com ele, demais pessoas estavam envolvidas no conflito no qual ele participou. As personagens principais do livro de Pyle (e famosas mundo a fora pelas adaptações da lenda): Robin Hood, Little John e Frei Tuck de fato existiram, segundo registros históricos. No entanto, o que Pyle fez foi recontar uma história utilizando estas personagens e alguns registros reais, modificando-a de modo a voltá-la para o público jovem, narrando-a de forma predominantemente fictícia e deixando-a divertida e bem humorada. Assim alcançado seu objetivo exposto no prefácio do livro. :)

Comentários Adicionais
     O Robin Hood de Pyle não possuía uma causa em lutar pelo povo camponês que vivia em péssimas condições por conta dos impostos e essas coisas todas que sabemos. Ele roubava dos ricos e dava aos pobres sim, como reza a lenda, porém Pyle deixou estes feitos para segundo plano e apenas mencionava em vários pontos da história que ele e seus homens faziam isto e por isso tinham grande apoio e aprecio por parte das pessoas que moravam em vilarejos próximos à Floresta de Sherwood em Notthinghan.
      Eu vejo como se Pyle quisesse atender aos objetivos iniciais que ele expõe no seu prefácio, como comentei acima, buscando que os feitos divertidos de Robin Hood sejam expostos em sua narrativa, tanto como vivia uma vida alegre em sem compromisso com seu bando de 150 homens. Outro ponto que considero interessante é a imagem de Robin Hood, ele possui uma reputação entre aos arredores de Nottinghan e era alvo de admiração de inúmeras pessoas, principalmente seus homens. Conforme ia lendo a obra de Pyle, eu percebi que o autor deixava bem claro a lealdade do bando com relação a Robin e que isto me chamava a atenção, principalmente por conta da aceitação geral da forma como o líder ditava ordens e regras, e isto era bem interessante porque Robin era muito jovem se comparados aos demais.

Minha Conclusão




     Bem, a história do arqueiro ladrão Robin Hood é uma história que eu gosto muito, embora eu tenha assistido poucas adaptações, o famoso herói inglês sempre me chamou a atenção. Quando tive acesso à obra de Pyle, me encantei pela forma como o autor conduzia a história. Achei muito interessante como o autor deixa claro que Robin não possuía um objetivo ou uma causa para lutar, apenas vivia daquela forma por achar ser a melhor forma de vida nas condições que ele se encontrava, como fora da lei. 
     Vale a pena ressaltar que o próprio Pyle havia criado Robin Hood com o objetivo de fazer um contraponto e uma crítica às fábulas e contos de moral que existia em sua época. Sendo assim, pode-se observar que não há herói ou um vilão na história, há apenas Robin e suas façanhas. Eu vejo como se Pyle trouxesse um modelo de personagem que não atendesse às condições das fábulas, um personagem que fosse herói para uns e ao mesmo tempo um vilão por ser um fora da lei, um ladrão. Penso que Pyle foi bem sucedido neste sentido.
      Devo admitir que este é um dos livros que eu indicaria com certeza para quem gostaria de conhecer o Robin Hood que ficou famoso nas palavras de Pyle, tanto é que as adaptações infantis animadas que conhecemos hoje possuem este livro como parâmetro.


Bem, a partir daqui devo avisar que vou comentar o final do livro



     No final nós temos o que Pyle considerou como "Epílogo", e eu fiquei curiosa em saber do que se tratava pois cada capítulo havia um nome especificando que parte da história seguiria, como "Parte um: Capítulo II- O concurso de tiro na cidade de Notthinghan". Então o que "Epílogo" quer dizer? E bem, de minha curiosidade eu resolvi ler. Penso que esta foi a parte mais triste e emocionante do livro inteiro, afinal boa parte da obra se dedicou a aventuras e relatos de coisas divertidas.
     Nesta parte, trata-se da volta de Robin à Floresta de Sherwood, pois ele fora nomeado Robert, conde de Huntington, pelo Rei Ricardo e havia participado da Terceira Cruzada junto deste, como arqueiro (neste ponto, eu penso que ele se tornaria contemporâneo de Altaïr haha). Segundo eu pesquisei na internet, eu percebo que Pyle aproximou sua obra ao que seriam os registros históricos reais de Robin Hood, principalmente quanto a nomeação nobre, o túmulo e as inscrições deste. Tanto é que as inscrições do livro são as mesmas que estão no túmulo real que seria supostamente de Robin Hood em Kirkless, Inglaterra.
      Sem falar que, na história desenvolvida por Pyle, o bando de Robin Hood existiu apenas por conta dele, nos dois momentos em que são relatadas a sua ausência (partida para a guerra e sua morte) o bando se desfaz pois não tem um objetivo ou uma causa para que continuem unidos. O que diverge dos registros históricos e relatos reais.
     Portanto, após tudo que li a respeito de Robin Hood (estudo do Robin Hood histórico e sobre a obra escrita por Pyle), concluo que a imagem que tenho de Robin é a das histórias de Pyle. Embora tenha tido toda aquela história de resistência presente na lenda e nos relatos históricos do personagem real, eu não consigo vê-lo desta forma. Simplesmente isso haha. Para mim, o Robin Hood que "roubava dos ricos e dava aos pobres" é o Robin Hood de Pyle e é o que encaixa na visão que tenho a respeito dele. Nesta história as preocupações são mínimas quanto a interesses políticos e econômicos, mostrando uma narrativa na qual podemos pensar na "Terra da Fantasia" mencionada no prefácio.
     Apesar de todos os registros históricos (que não irei negá-los), a minha visão do herói inglês simpatizou com esta versão escrita por Pyle - a qual é a minha favorita. Acredito que isto se deu pelo meu favoritismo quanto às versões animadas de Robin Hood (Disney e Robin Hood no Daibouken) que mencionarei na postagem #4 de Robin Hood.

Referências e Imagens
As Aventuras de Robin Hood (The Merry Adventures of Robin Hood). Martin Claret. 2009.
Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Zahar. 2013. (Versão comentada e ilustrada).
Howard Pyle - Wikipédia (inglês)
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