sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Sobre o "Diário de Anne Frank"

Postagem original: Junho de 2019
Atualização: Agosto de 2025



     Em Junho de 2025, Anne Frank estaria completando 96 anos se tivesse sobrevivido. Com relação a este fato, de forma coincidente, o livro Diário de Anne Frank chegou até mim em Maio de 2019 quando comecei a adotar mais os e-books no Kindle e no Google Livros, algo que pouco fazia parte dos meus hábitos de leitura. Quando olho para este livro - que se trata de fato de um diário - penso que fora abruptamente interrompido e que fora expressão de um contexto difícil e violento, sem falar que é um escrito composto de sentimentos muito turbulentos de uma adolescente de origem judia na Segunda Guerra Mundial. Bem, então vamos lá. 
      Para situar melhor o livro e seu contexto, vamos falar um pouco da autora, de sua família e sua realidade, a seguir comentários sobre a sua obra, minhas impressões e ao final, minha conclusão.

A Autora
Anne Frank
© AnneFrankHouse.org

     Annelies Marie Frank nasceu em 12 de junho de 1929, cresceu ao lado dos pais Otto e Edith Frank e irmã mais velha Margot Frank na Alemanha durante e período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Anne era judia e, devido a perseguição ao povo judeu ocorrido desde a ascensão do nazismo, fugiu junto de sua família para Holanda em 1941, onde passou 24 meses escondida em um compartimento escondido na empresa de um amigo da família Frank, chamado de Anexo Secreto. Durante este período escondida, Anne escreveu em um diário que ganhou de presente toda a situação pela qual passava, incluindo notícias a respeito da ocupação alemã na Holanda, processo de restrição aos direitos dos judeus e, principalmente, sobre seus pensamentos, emoções, rotina e situações ocorridas entre sua família e a família Van Pels, ambas escondidas no Anexo Secreto. Durante o período de 1942 a 1944, Anne estudava vários assuntos, lia vários livros e escrevia suas próprias histórias com o sonho de um dia ser escritora após o final da guerra. Infelizmente, em 1944 a família Frank e Van Pels foram encontradas e detidas pela polícia alemã e foram separados uns dos outros após serem mandados para os campos de concentração. Anne morreu provavelmente em fevereiro de 1944 no campo de concentração Berg-Belsen na Alemanha.
     O único sobrevivente deste período horrendo fora Otto Frank, pai de Anne, quem mais tarde publicou seu Diário e ajudou a instituir o museu Casa de Anne Frank no antigo Anexo Secreto.

O Diário de Anne Frank (1947)



Enredo e contexto
     Trata-se literalmente de um diário de uma adolescente na qual relata em seu diário situações que antecederam a perseguição do povo judeu na Alemanha nazista, sobre a fuga e onde puderam se esconder, bem como a rotina de tentar sobreviver num tempo e momento em que não se era permitido ser a pessoa que se era - judia. No decorrer da narrativa em que registra suas impressões da realidade, sonhos, descobertas e anedotas do cotidiano no Anexo Secreto onde tentava sobreviver à Guerra junto de sua família e conhecidos. Durante a busca pela sobrevivência diária que incluíra no relato de seu diário, podemos então perceber o sofrimento proveniente da violência que sofreram pela perseguição, o medo da morte, luto de sua vida cotidiana posterior e as implicações psicológicas de viver em um espaço confinado lidando diariamente com as mesmas pessoas. Tudo isso a partir dos olhos de uma adolescente que acreditava ainda existir a possibilidade de viver em um mundo melhor e poder estudar e ser jornalista.
       Como é de conhecimento geral, na época realizaram diversos tipo de violência e atrocidades ao povo judeu dentre outras pessoas que também foram perseguidas, torturadas e mortas pelos nazistas, como negros, pessoas LGBTQIA+ e Testemunhas de Jeová. Apesar do apagamento destes outros grupos, é importante serem mencionados e relembradas, uma vez que a perseguição ao diferente é algo que se mantém em nossa sociedade devido a preconceitos estruturais. Esta realidade por si só é extremamente pesada e necessária que seja de conhecimento da humanidade, por conta disto, o pai de Anne - o único sobrevivente - publicou seu diário com intuito de tocar as pessoas e compartilhar o que hoje é uma das provas mais concretas do holocausto e do "não-limite" das atrocidades humanas.

Minhas impressões

     O conteúdo do livro se dá de forma muito subjetiva, observamos os relatos a partir da própria Anne, que não se trata de uma personagem fictícia, mas de uma pessoa que realmente viveu nos anos 1940. Por se tratar de um diário, temos relato de diversos acontecimentos em sequência durante o período que esteve escondida com sua família da perseguição que sofreram por serem judeus na Segunda Guerra Mundial.
     O que me chama atenção é podermos onerar a mudança gradual e o crescimento de Anne diante das circunstâncias que muitas das vezes são pesadas e com pouca esperança. Também me leva a refletir sobre que condições eles tiveram que submeter para sobreviver, de forma que deixam de viver de fato a vida que tinham e quase tudo o que fazem é com objetivo de sobreviver até que o fim da guerra chegue num tempo e momento incertos. Tal fato também é demonstrado sobre o quanto aquele pequeno esconderijo com aquelas 8 pessoas se tornou um pequeno universo, que por vezes acaba como algo muito introspectivo e subjetivo. O relato de Anne também apresenta a dificuldade de conviver com este grupo, principalmente devido as condições que estavam e reflexos psicológicos do enclausuramento. Há também pensamentos e reflexões pessoais da autora que expõem as características mais humanas,  as quais todos compartilhamos como seres humanos e algo que possibilita a nos identificar com suas palavras e o que está posto. A condição humana nos faz identificarmos uns com os outros, algo que me remete a própria estrutura do Romance e da própria criação literária, que trata de situações ditas universais a todos nós humanos, como mudança, morte, perda e dor. E são coisas que estão predominantes neste livro.
     Além disso, a importância da manutenção e preservação deste tipo de registro e memória se faz incansavelmente necessário, uma vez que nos últimos anos percebemos que é muito fácil retroceder e que vivemos sempre à espreita de algum tipo de violência e perseguição de grupos eleitos especificamente e que mudam de acordo com o contexto. Sem falar que, na era atual da pós verdade, em que há movimentos de negação do holocausto e de outras atrocidades historicamente comprovadas, o Diário de Anne Frank se mostra mais uma vez como extremamente necessário para que a humanidade possa se lembrar de seus crimes e que não podemos jamais deixar de lutar pelos Direitos Humanos.

Referências e Imagens
O Diário de Anne Frank. LeBooks Editora. e-book, 2017.
Anne Frank House.org

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