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Para iniciar esta postagem, cheguei ao Dom Casmurro de maneira bem simples. Havia um exemplar bem velho em casa, mas não consegui ler pois estava muito amarelado, não me despertou tanto interesse até que chegou um período (aproximadamente há 7 anos) em que eu me perguntei porque determinadas obras eram consideradas como "clássicos". E aí, eu resolvi ler algumas delas e poder tirar minhas próprias conclusões. Nesta proposta de leitura que eu fiz para mim mesma, comprei alguns livros, dentre eles o Dom Casmurro.
Conheci algumas obras do Machado de Assis além desta, a narrativa dele é uma das que mais gosto, ainda não sei dizer exatamente o porquê. Antes de falar do livro, farei uma pequena apresentação do autor, abaixo:
O Autor
O Autor
Machado de Assis aos 50 anos (Foto atualizada em 07/07/19) Projeto Machado de Assis Real |
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Sua família era de origem humilde e moravam no Morro do Livramento na cidade do Rio. Após uma infância difícil com a perda da mãe, irmãos e mais tarde o pai, Machado começou como colaborador do jornal Marmota Fluminense em 1855. Sua carreira como escritor surge aos poucos, continuou em boa parte de sua vida trabalhando como revisor, redator, colaborador e crítico teatral de vários jornais da época, de 1858 a 1867.
Depois deste período, o autor assumiu diversos cargos públicos, dentre eles o cargo de oficial de gabinete do ministro da Agricultura. Sem mencionar que, na companhia de amigos escritores, em 1886 dirige a primeira sessão preparatória da fundação da Academia Brasileira de Letras – ABL. E no ano seguinte é eleito o primeiro presidente da Academia. Não
posso deixar de comentar que Machado viveu o período Monárquico no
Brasil e também a transição para a República, devido a isso podemos
encontrar muitos contos escritos por ele envolvendo a situação política
do país. Machado morre em 1908 aos 69 anos, quatro anos após a morte de sua esposa Carolina Augusta Xavier de Novais.
Dom Casmurro (1899)
Dom Casmurro (1899)
A narrativa não é tão longa e inicialmente temos a proposta da Escola Romântica. De início, a história me parece um tanto boba, porque conta desde a infância das personagens. Mas como eu sei que Machado é o Machado, ele não escreveria algo que nos parecesse bobo à toa. A história tem como o cenário os anos 1870/80 na capital do Rio de Janeiro, cenário preferido de Machado, as obras que li e que possuíam essa preocupação com o contexto geralmente apresentavam o Rio como cenário.
Quando comecei a ler Dom Casmurro, na época eu não via nada de tão especial, e hoje e já não vejo exatamente assim. O começo me pareceu muito enfadonho, não te leva a "ficar preso" à história, vejo como uma narrativa que visa construir uma imagem de cada uma das personagens e que no final esta construção começa a ser abalada pelas impressões do narrador-personagens, o que nos faz repensar toda a concepção e visão iniciais que tínhamos de Capitu e do próprio narrador.
O Trecho Famoso
Este é o trecho mais famoso do livro e também a descrição mais famosa da personagem Capitu. Confesso que não sei exatamente o porquê deste trecho ser tão famoso assim, porém penso que está ligado à dúvida sobre a conduta da personagem, colaborando com a polêmica estabelecida nos momentos finais da narrativa.
A Eterna e Famosa Polêmica
A Eterna e Famosa Polêmica
A polêmica da dúvida sobre a traição de Capitu fez com que leitores discutirem e defenderem seu ponto de vista. Esta incerteza se baseia justamente devido à narração em primeira pessoa, Bentinho se coloca como narrador-personagem, então temos acesso somente o que perpassa pela interpretação deste personagem. Sendo assim, a cena que faz com que ele passe a duvidar de Capitu, ao meu ver, é uma afirmação totalmente interpretativa. Quando ele afirma dizer que pôde ver "a mesma dor de Sancha nos olhos de Capitu", penso que podemos ficar somente na dúvida, não há como saber de fato se o sofrimento se dava pelo mesmo motivo. A certeza seria possível caso o narrador fosse em terceira pessoa e ele tivesse acesso aos sentimentos e pensamentos das personagens. Disto tudo, pude concluir que a narrativa construída em primeira pessoa teve justamente o objetivo de deixar os leitores com a mesma dúvida do narrador-personagem.
Minhas impressões
Minhas impressões
Durante a leitura do livro, considerei muito cansativa, aquele romantismo piegas estava me cansando demais! Porém, quase no fim nós temos a transição brusca da história, o romantismo vai aos poucos desaparecendo e sendo substituído pela narrativa de cunho realista. E desde então isso me chamou a atenção.
Por ser escrito em primeira pessoa, tudo que sabemos é conforme o personagem Bentinho interpretou, logo não temos a certeza plena de que as coisas eram exatamente como ele narrava, por exemplo, poderia mesmo seu filho se parecer com Ezequiel? Foi uma conclusão dele, e é a única evidência que temos. A "polêmica" tem raiz justamente devido a isto, causando divisão de opinião entres os leitores.
Eu tive uma teoria por alguns anos, na verdade não me atentei tanto em dar um resposta a pergunta clássica. Por um momento pensei que Dom Casmurro fosse mais como uma demonstração da mudança de tendências, do Romantismo para o Realismo. Pensei assim justamente porque a narrativa muda de forma muito rápida e brusca, afinal está em primeira pessoa. Depois de verificar a cronologia das obras de Machado com mais calma, comecei a pensar de outra forma.
Dom Casmurro foi publicado em 1899, depois de outras obras de tendência realista como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Papéis Avulsos (1882), então me questionei o porquê do retorno ao romantismo no começo deste livro. A resposta mais coesa que eu encontrei foi a crítica. Os autores de tendência realista criticavam bastante o modelo romântico, então penso que Machado de Assis teve a mesma intenção na mudança da narrativa de Dom Casmurro. O final praticamente destrói toda a imagem construída da Capitu e também desfaz todo o 'encantamento' - digamos assim - da relação amorosa que o personagem mantinha com ela. Penso que isto soa como uma crítica a toda a parte inicial do livro.
Outras Versões e Adaptações de Dom Casmurro
Outras Versões e Adaptações de Dom Casmurro
Dom Casmurro não teve muitas adaptações, as duas em que tive conhecimento foi a minissérie "Capitu", reproduzida para televisão e a adaptação em quadrinhos. Ainda não tive acesso a ambas adaptações então penso que não posso fazer uma análise comparativa com a narrativa, apenas concebo que a obra perde alguns elementos básicos ao ser adaptada, porém não tenho certeza se isto acontece em ambas adaptações citadas.
Dom Casmurro em quadrinhos |
Todas as obras de Machado de Assis se encontram gratuidas no Domínio Público!
Até a próxima postagem!
Dom Casmurro - Martin Claret: 7ª Edição.
Site Machado de Assis - MEC
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