segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Sobre o shoujo mangá "Orange", de Ichigo Takano


      Há algum tempo, mês de Setembro passou a ser considerado o mês simbólico de prevenção do suicídio, de modo a ser popularmente chamado de Setembro Amarelo. Acredito que quando se trata de saúde mental, o trabalho de prevenção e de cuidado deva ser amplamente divulgado, principalmente por conta do fato de que a tentativa de suicídio se trata do estágio máximo e mais grave do adoecimento mental. Este tema ainda possui um pouco de resistência em ser discutido e abordado em diversos espaços, apesar de que percebo que quando adequadamente apresentado por meio de algum tipo de filme ou série pode ser um ponto positivo para inserir aos poucos esse tema tão importante.
       Neste mês em específico eu sempre lembro de várias coisas que tive contato a respeito e, dentre elas, o lindo shoujo de Ichigo Takano: Orange. Apesar de que o suicídio em si não é o único tema trabalhado na história, a autora trás uma abordagem singela e muito bonita sobre como o sofrimento de alguém pode passar despercebido, assim como o quanto que as relações interpessoais acolhedoras podem significar muito na vida de alguém que se encontra em um momento difícil da vida.

© Ichigo Takano
    Lançando no Brasil em 2017 pela editora JBC, o shoujo mangá Orange apresenta história de 6 amigos adolescentes que estudam na mesma sala e tem personalidades diferentes. A história começa basicamente quando o grupo que antes era composto de 5, passa a ser de 6 pessoas com a entrada de um aluno novo. Os personagens são: Naho, Azu, Kakeru, Suwa, Hagita e Takako. Aparentemente se trata de um grupo de adolescentes comum em um contexto escolar comum, no entanto é neste espaço que a autora introduz algumas considerações sobre o contexto de saúde mental, sofrimento e suicídio, principalmente devido ao fato de que se aproxima muito da realidade. Pessoas em sofrimento estão em todos lugares, vivendo vidas aparentemente normais e nem sempre dão sinais de que se encontram em uma condição emocional e pessoal difícil, independente de idade e contexto.


Plot: Passado e Futuro

© Ichigo Takano
     Na história, os adolescentes recebem cartas de seus "eus" de 10 anos no futuro cujo conteúdo são acontecimentos e aconselhando sobre como ajudar um amigo que está passando por um momento difícil. Na realidade em que os personagens se encontra mais velhos, eles sem encontram sem o seu amigo Kakeru e descobrem apenas 10 anos depois que sua morte se tratava de um suicídio, então decidem escrever cartas com a esperança de que em algum lugar e de alguma forma eles tivessem a chance novamente de ajuda-lo. Assim, a história se apresenta com duas realidades paralelas.
      O interessante é como eles escolhem e o que fazem para tentar ser acolhedores, empáticos e oferecerem suporte ao seu amigo: por meio de demonstrações de afeto e de valorização da amizade, dentro de seus limites e possibilidades enquanto adolescentes. Neste ponto, a autora tenta apresentar o quanto algumas atitudes positivas podem ter impacto na vida de alguém. Mesmo se tratando desse tema, a autora não deixa de apresentar situações comuns presentes nesta faixa etária, de modo a não deixar o foco tão somente para a tristeza e suicídio, mas também apresentando a complexidade das vidas humanas.

Minhas impressões: Saúde Mental e Suicídio

Seguem os meus volumes :)
       Suicídio ainda é um tema bastante evitado e considerado forte para ser falado de forma mais aberta na sociedade, assim como uma realidade no Brasil, também uma realidade no mundo todo. O Japão tem suas peculiaridades acerca deste assunto, principalmente por ter associações a cultura e religião oriental, logo é também um tema pouco apresentado e discutido no contexto local, algo que acredito ter motivado Ichigo Takano a apresentar uma história com este tipo de tema.
          O tema do suicídio e da morte são pouco abordados pelo fato de se acreditar que não se deva falar dele porque pode incentivar as pessoas fazê-lo, até mesmo pelo fato de que na sociedade onde se prosperam conceitos sobre bem estar, felicidade e qualidade de vida, não se aceita falar de temas mais obscuros e que se remetem a tristeza. Eu gosto do Orange justamente por conta de trazer o tema por meio de uma história de modo a ser tratado de forma bem breve e pouco complexa, de modo que se aproxima um pouco de como as coisas podem acontecer e, apesar de suas limitações fictícias, apresenta o papel importante das relações com objetivo de prevenir o pior e valorizar a vida.
        Não tem como falar de suicídio sem associar a saúde mental, pois esta consiste nas nossas emoções, capacidade de lidar com problemas e humor. Problemas podem existir, no entanto deve-se considerar se caso estes problemas estão tendo impacto emocional intenso a ponto de afetar rotina e relacionamentos com as outras pessoas, além de sensações de tristeza frequente e intensa, e também pensamentos frequentes de conteúdo negativo - aqui que se encontra o ponto que leva ao suicídio. Sendo assim, é necessário que se fale sobre o tema no sentido de saber como manejar este tipo de situação, e também saber como ajudar e onde buscar ajuda adequada. Em alguns casos é preciso que se faça acompanhamento com profissionais de saúde. Neste ponto, claro, a história não abordou pois apresenta limitações, mas não deixa de ser um instrumento facilitador para que se apresente ou discuta o tema na faixa etária para o qual Orange é destinado.
      A partir dos personagens podemos nos identificar com a história apresentada por se tratar do que temos em comum: nossas vivências humanas. Principalmente, por possibilitar entender o ponto de vista do personagem em sofrimento e o quanto a vida pode parecer um fardo para algumas pessoas. Além de também possibilitar entender um pouco sobre como é perder alguém para o suicídio. Perspectivas importantes para visualizar a complexidade do tema.
        Orange apresenta saúde mental sem diretamente falar desse termo, além de apresentar os complexos sentimentos relacionados a esperança, tristeza, perda, saudade e amizade. Assim, relaciona-se com nossas próprias experiências pessoais, de forma a se tratar de uma história com conteúdo demasiadamente humano.

© Ichigo Takano

Até a próxima postagem!
#SetembroAmarelo


Imagens

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